sexta-feira, 11 de março de 2011

Pré-projeto de mestrado - orientações - Conversa com o professor (20): COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO: "EPISTOMOLOGIA DA ANÁLISE DO DISCURSO NO TURISMO", de Luzia Coriolano (Professora da Universidade Estadual do Ceará - UECE).

O turismo é situado como opção para o desenvolvimento dos países, estados e municípios e esta superestimação de seu desempenho criou falsas expectativas, pois o turismo, que por si só não oferece possibilidade de solução dos problemas, não tem condições de desenvolver regiões pobres, nem de distribuir riqueza do Pais (essa visão distribtivista é uma visão política; como estudo das contradições, a autora não vai aos fundamentos da produção. Falar em distribuição, é falar em mercado; a contradição não está no mercado, mas na produção _ proprietários e não proprietários do capital _ embora a mais valia só se realize completamente na circulação. Observe que o senso comum tudo avalia em termos de mercado, por força da visão difundida pela indústria cultural, que camufla a produção ocmo fundamento da dominação. Isso, como você sabe, são fundamentos da teoria marxista.)

[...] fez foi apresentar problemas, mesmo quando passou a ser tratado como política, porque é produzido para acumulação capitalista e não para atender as necessidades básicas do trabalhador. Transforma o espaço local em mercadoria global.

O espaço que já havia sido valorizado por outras atividades capitalistas, inclusive para o veraneio, passou a ser revalorizado ao nível do mercado global (a autora continua referindo-se ao mercado, mesmo depois de mencionar a acumulação e ampliação do capital),ou seja, dá outra dimensão ao processo de valorização dessa mercadoria.

É por esta razão que o custo de vida fica mais caro para  todos nas comunidades receptoras sacrificando mais ainda os residentes (esta é a maior deformação técnica cometida pela autora, até aqui, dar destaque ao custo de vida "caro", que não é uma categoria científica de análise marxista, como são suas fontes. Se ela tivesse apresentado com vigor os fundamentos sócio-econômicos da divisão e dominação de classes, tudo bem, neste caso o encarecimento do custo de vida cai bem como efeito das condições estruturais da sociedade fundada na propriedade. Não li o texto todo, mas certamente, a autora vai dar conta dos conceitos que estão nas fontes que ela consultou, especialmente Lefebvre e Baktin, que são marxistas. Observe, que a autora está incorrendo no "não dito", exemplo de que a ciência oculta ou, como a própria autora diz, acima, há outro discurso que não o dela.)


Pré-projeto de mestrado - orientações - Conversa com o professor (19): COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO: "EPISTOMOLOGIA DA ANÁLISE DO DISCURSO NO TURISMO", de Luzia Coriolano (Professora da Universidade Estadual do Ceará - UECE).

Esses valores são os que dão sentido à vida, aqueles pelos quais se aceita arriscar o essencial.
A audiência dos depoimentos de autores sociais, realizada em algumas comunidades cearences, a respeito das concepções sobre o desenvolvimento de suas comunidades e acerca do turismo local, inscreve-se no eixo das três escutas de Barbier, e significa a forma de tomar consciência e de inferir do pesquisador que adota a lógica da abordagem transversal.

A escuta sensível do pesquisador passa por essa técnica da abordagem transversal, foge do instituído, trabalha a sensibilidade e a condição humana na dimensão dialética da criação, gerando uma coerência no processo de análise. A informação chega interpretada em primeira mão, provém do sujeito que fala e o analista procura encontrar na interpretação desse sujeito o sentido, submetendo sua análise a uma segunda interpretação.

Busca-se compreender como o objeto simbólico produz sentido, passando pela análise ideológica. Orlandi (2000, p. 74) distingue o real e o imaginário como princípio básico da análise do discurso, dizendo que o que temos, em termos de real do discurso, é a descontinuidade, a dispersão, a incompletude, a falta, o equívoco, a contradição, constitutiva tanto do sujeito como do sentido.

De outro lado, em nível das representações, temos a unidade, a completude, a coerência, o claro e a não contradição, na instância do imaginário. É por essa articulação necessária que o discurso funciona. É também dessa natureza a distinção (relação necessária) entre o discuso e o texto, sujeito e autor.

A autora argumenta que não basta falar para ser autor, pois a autoria implica uma inserção do sujeito na cultura e uma posição no contexto ideológico social (observe como a autora aproxima-se dos fundamentos sócio-econômicos, históricos). Por conseguinte, as mesmas palavras podem ter significados diferentes e representam a alteridade por excelência, ou seja, o outro com toda sua historicidade.

Isso explica os vários discursos os vários discursos sobre o turismo e seu desenvolvimento. Na palavra, está o contido, o não-dito (o não-dito) ou o implícito, o pressuposto, o subentendido e até o silêncio. Orlandi (2000, p. 83) "distingue o silêncio fundador (que faz com que o dizer signifique) e o silenciamento ou política do silêncio (novamente) que, por sua vez pode ser um silêncio constitutivo, pois uma palavra apaga outras palavras e o silêncio local que é a censura, aquilo que é proibido dizer em uma certa conjuntura."

O discurso em torno dos lugares e do turismo é um repertório polêmico, no qual o referente é disputado pelos interessados, numa relação tensa de alterações de sentidos, configurando-se como uma prática de resistência e afrontamento.

Daí por que para uns, interessa o discurso do turismo degradados e para outros o turismo desenvolvimentista. Ao dizer, significa-se o homem e significa-se o próprio mundo ao mesmo tempo, ou seja, a realidade constitui-se nos sentidos que o homem dá na posição de sujeito e exercício social. Dessa maneira, a linguagem é uma prática, não apenas no sentido de efetuar atos, mas aquela de dar sentido, de intervir no real.

A análise dos depoimentos, dos discursos de atores sociais, dos documentos realizados neste trabalho teve como base estudos de Geraldi (2003), de Bakhtin (2002), de Ribeiro & Garcez (1998), de Brandão (1998), de Orlandi (2000), de Bardin (1997) que entendem o discurso como a palavra em movimento e a mediação necessária entre o homem e a realidade.

Pode-se tomar como objeto de análise discursos, artigos, textos de jornais, entrevistas, depoimentos de natureza diversa; algumas são peças do planejamento governamental, práticas empresáriais e depoimentos de líderes comunitários.


continua...

sábado, 5 de março de 2011

Pré-projeto de mestrado - orientações - Conversa com o professor (18): COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO: "EPISTOMOLOGIA DA ANÁLISE DO DISCURSO NO TURISMO", de Luzia Coriolano (Professora da Universidade Estadual do Ceará - UECE).

Na análise do discurso, o imaginário, os signos, as imagens são produzidas de forma
relacionada com o modo como as relações sociais se inscrevem na história e são regidas
por meio de relações de poder. O discurso revela as representações e ideologias,
permeadas pela linguagem que são também temporais.

"Tudo que é ideológico possui significado e remete a algo situado fora de si
mesmo, tudo que é ideológico é um signo" (BAKHTIN, 2002, p. 31). No turismo,
assim como em outras atividades, se repete de forma ideológica o que se pensa, ou seja,
o sentido que se dá aos fatos é determinado por posições ideológicas. Daí, para uns, o turismo
ser uma panacéia e, para outros, comparável a um furacão devastados.

As palavras carregam sentido nelas mesmas _ o cognitivo _ mas também dependem do contexto
em que inscrevem _ o denotativo. Por isso, na linguagem, as palavras iguais podem ter significados
diferentes, pois se inscrevem em formações discursivas dessemelhantes. O desenvolvimento econômico,
os lugares e o turismo, para variados grupos e pessoas  (aqui, a autora começa a tocar nos fundamentos da divisão social: a propriedade; porém, afasta-se da dialética histórico-crítica, como a de Baktin, ao usar o termo "pessoas de renda alta", "segmentos de classe pobre ou
de baixa renda"; é uma deformação do conceito de classes proprietárias, classes dominantes), possuem distintos significados.

Quando pessoas de renda alta (?) concebem a qualidade de vida e a sustentabilidade,
emprestam a esses conceitos sentidos desiguais em relação aos que lhe são atribuídos pelos
segmentos de classe pobre ou de baixa renda (?)

Um dos pontos fortes da análise do discurso é a ressignificação dos conceitos. Não há sentido
sem interpretação, mas, lembra Orlandi (2000, p. 46) "nesse movimento da interpretação o sentido
parece-nos como evidência, como se ele estivesse já sempre lá. Interpreta-se e ao mesmo tempo nega-se
a interpretação, colocando-a no grau zero. Naturaliza-se o que é produzido na relação do histórico e do simbólico.

Esse apagamento da interpretação produzindo subjetividades é explicado na teoria materialista através da
produção de uma teoria não subjetiva da subjetividade, na qual se pode trabalhar o efeito de evidência dos sujeitos e dos sentidos, para que a ideologia deixe de ser ocultação, mas uma relação necessária
entre a linguagem e os grupos que se comunicam; desconstruir, para construir novamente.

Para Brandão (1998, p. 12) "o ponto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos
linguísticos é, portanto, o discurso. E para Foucault o discurso é o espaço em que poder e saber se
articulam, pois quem fala, fala de algum lugar, a partir de um direito reconhecido institucionalmente.

O pesquisador, portanto, faz escutas para ouvir depoimentos, como ensina Orlandi (2000, p.59):
"ouvir para lá das evidências e compreender acolhendo, a opacidade da linguagem, a determinação dos sentidos pela história, a constituição do sujeito pela ideologia e pelo inconsciente, fazendo espaço para
o possível, para a singularidade, a ruptura, a resistência".

Essas são condições para sua interpretação. René Barbier (1998) remete essa análise à escuta
sensível que consiste no aguçamento da sensibilidade do pesquisador par asaber ouvir e,
mais que isso, saber escutar colocando-se na posição do outro. Distingue três tipos de oitivas:
científica-clínica que é própria da pesquisaação; a poético-existencial, aquela escuta que leva em conta
os fenômenos imprevistos resultantes da ação das minorias e do que há de específico num grupo
de indivíduos; e a espiritual-filosófica, a ouvida dos valores últimos que atuam no sujeito, isto é,
no indivíduo e no grupo.

continua...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Pré-projeto de mestrado - orientações - Conversa com o professor (17): COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO: "EPISTOMOLOGIA DA ANÁLISE DO DISCURSO NO TURISMO", de Luzia Coriolano (Professora da Universidade Estadual do Ceará - UECE).

As instituições
caracterizam-se por discursos. O turismo tem
um discurso próprio. São os representantes dos governos, dos empresários e
das comunidades que o formulam. Produzem-se os discursos para o controle
da sociedade ou dos próprios sujeitos e como leciona Prof. Wanderley Geraldi (2003),
se há necessidade de controle, é porque há descontroles. (observe que, até aqui, a autora
não tocou na questão de propriedade).
Também se pode atribuir a necessidade do controle à emergência dos conflitos e à
vontade de dominação. (o discurso oficial, do governo federal, nos PCNs/Arte, fala em dominação, mas não toca na questão de propriedade. São categorias que não se confundem,
embora interconectadas. Esse tipo de discurso esconde a divisão social em classes de proprietários e não proprietários).
Identifica-se quem discursa, de onde, a qual instituição pertence o curso? Quais
os deslocamentos institucionais? Que resultados produzem? Que tese os discursos
defendem? Quais as contradições inseridas nos discursos, falas e ações? Que realidades
produzem? Os discursos não são únicos, embora algumas ideologias tentem aproximá-los.
Faz-se necessário identificar o que foi dito.  (Leandro, observe este procedimento metodológico,
em torno do "dito" e o "não dito", que oculta; isto é próprio da ideologia), e suas diferenças, as relações e interações dos discursos, em uma dada realidade social. As ideologias são discursos para esconder, mas propõe-se a ser um discurso para desvendar, compreender as lacunas, caso contrário,
cairia no positivismo.

Os lugares, o desenvolvimento regional e o turismo possuem significados, diretrizes, objetivos,
discursos e políticas variadas. Orlandi (2000, p. 16) lembra que os estudos discursivos visam pensar o sentido dimensionado no tempo e no espaço das práticas do homem, descentralizando a noção do sujeito, relativizando a autonomia do objeto da linguística. Não trabalha com a lingua fechada nela mesma, mas com o discurso que é um objeto sóciohistórico em que o linguístico intervém apenas como pressuposto.

Procurar compreender como o turismo (Leandro, se você substituir a palavra turismo por arte, você chega a reflexões interessantes, arte como mercadoria, como a produção da música sertaneja ao tecnobrega, e os discursos oficiais do PCNs/Arte, fundações culturais, secretarias e conselhos municipais da cultura, etc.etc.) produz significados e sentidos, como está investido de significância para os sujeitos. As atividades turísticas produzidas por governos, empresários e comunidade anfitriãs contêm mensagens a serem decodificadas e sentidos que os pesquisadores precisam aprender.
A análise do discurso propõe-se a construir escutas que permitam levar em conta esses efeitos e explicar a relação desse saber com a realidade, uma análise que não se aprende, não se ensina, mas que produz seus efeitos. "Essa nova prática de leitura - a discursiva consiste em considerar o que é dito em um discurso e o que é dito em outro, o que é dito de um modo e o que é dito de outro, procurando escutar o  não-dito (aqui o não-dito) naquilo que é dito, com ouma presença de uma ausência necessária" (ORLANDI, 2000, p. 34).