sexta-feira, 11 de março de 2011

Pré-projeto de mestrado - orientações - Conversa com o professor (19): COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO: "EPISTOMOLOGIA DA ANÁLISE DO DISCURSO NO TURISMO", de Luzia Coriolano (Professora da Universidade Estadual do Ceará - UECE).

Esses valores são os que dão sentido à vida, aqueles pelos quais se aceita arriscar o essencial.
A audiência dos depoimentos de autores sociais, realizada em algumas comunidades cearences, a respeito das concepções sobre o desenvolvimento de suas comunidades e acerca do turismo local, inscreve-se no eixo das três escutas de Barbier, e significa a forma de tomar consciência e de inferir do pesquisador que adota a lógica da abordagem transversal.

A escuta sensível do pesquisador passa por essa técnica da abordagem transversal, foge do instituído, trabalha a sensibilidade e a condição humana na dimensão dialética da criação, gerando uma coerência no processo de análise. A informação chega interpretada em primeira mão, provém do sujeito que fala e o analista procura encontrar na interpretação desse sujeito o sentido, submetendo sua análise a uma segunda interpretação.

Busca-se compreender como o objeto simbólico produz sentido, passando pela análise ideológica. Orlandi (2000, p. 74) distingue o real e o imaginário como princípio básico da análise do discurso, dizendo que o que temos, em termos de real do discurso, é a descontinuidade, a dispersão, a incompletude, a falta, o equívoco, a contradição, constitutiva tanto do sujeito como do sentido.

De outro lado, em nível das representações, temos a unidade, a completude, a coerência, o claro e a não contradição, na instância do imaginário. É por essa articulação necessária que o discurso funciona. É também dessa natureza a distinção (relação necessária) entre o discuso e o texto, sujeito e autor.

A autora argumenta que não basta falar para ser autor, pois a autoria implica uma inserção do sujeito na cultura e uma posição no contexto ideológico social (observe como a autora aproxima-se dos fundamentos sócio-econômicos, históricos). Por conseguinte, as mesmas palavras podem ter significados diferentes e representam a alteridade por excelência, ou seja, o outro com toda sua historicidade.

Isso explica os vários discursos os vários discursos sobre o turismo e seu desenvolvimento. Na palavra, está o contido, o não-dito (o não-dito) ou o implícito, o pressuposto, o subentendido e até o silêncio. Orlandi (2000, p. 83) "distingue o silêncio fundador (que faz com que o dizer signifique) e o silenciamento ou política do silêncio (novamente) que, por sua vez pode ser um silêncio constitutivo, pois uma palavra apaga outras palavras e o silêncio local que é a censura, aquilo que é proibido dizer em uma certa conjuntura."

O discurso em torno dos lugares e do turismo é um repertório polêmico, no qual o referente é disputado pelos interessados, numa relação tensa de alterações de sentidos, configurando-se como uma prática de resistência e afrontamento.

Daí por que para uns, interessa o discurso do turismo degradados e para outros o turismo desenvolvimentista. Ao dizer, significa-se o homem e significa-se o próprio mundo ao mesmo tempo, ou seja, a realidade constitui-se nos sentidos que o homem dá na posição de sujeito e exercício social. Dessa maneira, a linguagem é uma prática, não apenas no sentido de efetuar atos, mas aquela de dar sentido, de intervir no real.

A análise dos depoimentos, dos discursos de atores sociais, dos documentos realizados neste trabalho teve como base estudos de Geraldi (2003), de Bakhtin (2002), de Ribeiro & Garcez (1998), de Brandão (1998), de Orlandi (2000), de Bardin (1997) que entendem o discurso como a palavra em movimento e a mediação necessária entre o homem e a realidade.

Pode-se tomar como objeto de análise discursos, artigos, textos de jornais, entrevistas, depoimentos de natureza diversa; algumas são peças do planejamento governamental, práticas empresáriais e depoimentos de líderes comunitários.


continua...

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