sábado, 5 de março de 2011

Pré-projeto de mestrado - orientações - Conversa com o professor (18): COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO: "EPISTOMOLOGIA DA ANÁLISE DO DISCURSO NO TURISMO", de Luzia Coriolano (Professora da Universidade Estadual do Ceará - UECE).

Na análise do discurso, o imaginário, os signos, as imagens são produzidas de forma
relacionada com o modo como as relações sociais se inscrevem na história e são regidas
por meio de relações de poder. O discurso revela as representações e ideologias,
permeadas pela linguagem que são também temporais.

"Tudo que é ideológico possui significado e remete a algo situado fora de si
mesmo, tudo que é ideológico é um signo" (BAKHTIN, 2002, p. 31). No turismo,
assim como em outras atividades, se repete de forma ideológica o que se pensa, ou seja,
o sentido que se dá aos fatos é determinado por posições ideológicas. Daí, para uns, o turismo
ser uma panacéia e, para outros, comparável a um furacão devastados.

As palavras carregam sentido nelas mesmas _ o cognitivo _ mas também dependem do contexto
em que inscrevem _ o denotativo. Por isso, na linguagem, as palavras iguais podem ter significados
diferentes, pois se inscrevem em formações discursivas dessemelhantes. O desenvolvimento econômico,
os lugares e o turismo, para variados grupos e pessoas  (aqui, a autora começa a tocar nos fundamentos da divisão social: a propriedade; porém, afasta-se da dialética histórico-crítica, como a de Baktin, ao usar o termo "pessoas de renda alta", "segmentos de classe pobre ou
de baixa renda"; é uma deformação do conceito de classes proprietárias, classes dominantes), possuem distintos significados.

Quando pessoas de renda alta (?) concebem a qualidade de vida e a sustentabilidade,
emprestam a esses conceitos sentidos desiguais em relação aos que lhe são atribuídos pelos
segmentos de classe pobre ou de baixa renda (?)

Um dos pontos fortes da análise do discurso é a ressignificação dos conceitos. Não há sentido
sem interpretação, mas, lembra Orlandi (2000, p. 46) "nesse movimento da interpretação o sentido
parece-nos como evidência, como se ele estivesse já sempre lá. Interpreta-se e ao mesmo tempo nega-se
a interpretação, colocando-a no grau zero. Naturaliza-se o que é produzido na relação do histórico e do simbólico.

Esse apagamento da interpretação produzindo subjetividades é explicado na teoria materialista através da
produção de uma teoria não subjetiva da subjetividade, na qual se pode trabalhar o efeito de evidência dos sujeitos e dos sentidos, para que a ideologia deixe de ser ocultação, mas uma relação necessária
entre a linguagem e os grupos que se comunicam; desconstruir, para construir novamente.

Para Brandão (1998, p. 12) "o ponto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos
linguísticos é, portanto, o discurso. E para Foucault o discurso é o espaço em que poder e saber se
articulam, pois quem fala, fala de algum lugar, a partir de um direito reconhecido institucionalmente.

O pesquisador, portanto, faz escutas para ouvir depoimentos, como ensina Orlandi (2000, p.59):
"ouvir para lá das evidências e compreender acolhendo, a opacidade da linguagem, a determinação dos sentidos pela história, a constituição do sujeito pela ideologia e pelo inconsciente, fazendo espaço para
o possível, para a singularidade, a ruptura, a resistência".

Essas são condições para sua interpretação. René Barbier (1998) remete essa análise à escuta
sensível que consiste no aguçamento da sensibilidade do pesquisador par asaber ouvir e,
mais que isso, saber escutar colocando-se na posição do outro. Distingue três tipos de oitivas:
científica-clínica que é própria da pesquisaação; a poético-existencial, aquela escuta que leva em conta
os fenômenos imprevistos resultantes da ação das minorias e do que há de específico num grupo
de indivíduos; e a espiritual-filosófica, a ouvida dos valores últimos que atuam no sujeito, isto é,
no indivíduo e no grupo.

continua...

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