terça-feira, 14 de agosto de 2012

A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda: Capítulo 04 - LIVRO SEGUNDO

A escolha das unidades

Em suma, o Cap. 04 da Teoria Geral fala sobre a Contabilidade Nacional. (na época não havia as contas nacionais).

Keynes aponta três "perplexidades" que dificultaram a elaboração da Teoria Geral até ele encontrar uma solução para elas:

  1. escolha das unidades quantitativas adequadas aos problemas do sistema econômico em conjunto;
  2. o papel representado pelas expectativas na análise econômica;
  3. a definição de renda.


Definição de DISPÊNDIO NACIONAL = Produção Corrente ou Renda Real (líquida)


De acordo com Pigou e Marshall o dividendo nacional mede o volume da produção corrente ou renda real.

Dependendo, em certo sentido, da produção líquida (da adição líquida dos recursos da comunidade disponíveis para consumo ou retidos como provisão de capital, que resulta de atividades econômicas e dos sacrifícios de um período, depois de levado em conta o desgaste do estoque do capital real existente desse mesmo período).

A objeção a esse conceito é o fato de a produção da comunidade em bens e serviços ser um complexo não homogêneo que não se pode medir (no estrito sentido da palavra).

A dificuldade é ainda mais acentuada para calcular a PRODUÇÃO LÍQUIDA. Para chegar a tal dividendo Pigou deduz "certa" margem de obsolescência, considerando uma variação na quantidade física, embora não tenha havido variação física alguma. Keynes, de certa forma, aceita a definição de produção líquida de Pigou por não haver uma melhor. 

(Questões puramente teóricas -  "jamais confundem ou afetam [...] as decisões dos homens de negócios [...]"

A IDEIA CENTRAL DE KEYNES É QUE NÃO É RELEVANTE SABER SOBRE O NÍVEL GERAL DE PREÇOS E A PRODUÇÃO REAL LÍQUIDA PARA UMA ANÁLISE CAUSAL.


EXPECTATIVAS

Para Keynes um aumento nas expectativas de demanda conduz a um acréscimo de produção agregada.


EMPREGO - OFERTA DE MÃO-DE-OBRA

A seguir, Keynes coloca que irá utilizar apenas duas unidades de quantidades fundamentais para tratar da teoria do  emprego: quantidade de valor monetário e quantidade de emprego.

Após, ele cria um sistema de ponderação sobre a mão-de-obra especializada e não-especializada, criando uma hipótese de homogeneidade na oferta de mão-de-obra (ponderando a mão-de-obra especializada proporcionalmente à sua remuneração), sem deixar de observar a lei dos rendimentos decrescentes (p.40), sinalizando uma equação:

E = N.W

Em que:

E = folha de salários
N = quantidade de emprego
W = unidade de salários


Keynes relata que a hipótese de uma unidade de trabalho homogênea não suscitaria objeções, a não ser que houvesse grande instabilidade na remuneração relativa das diferentes unidades de trabalho..

Coloca, também, que diminuiria muito a perplexidade se limitasse a duas unidades: moeda e emprego, quando se trata do comportamento econômico em conjunto (agregado). Diz que o uso de "conceitos vagos" como o volume de produção global, quantidade de equipamento do capital como um todo e nível geral de preços, para ocasiões que busca-se alguma comparação histórica, dentro de certos limites, é reconhecidamente imprecisa e aproximada.

 

 










quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda: Capítulo 03

O Princípio da Demanda Efetiva


Sumariando  (p. 29-31), [...] os empresários esforçam-se para fixar o volume de emprego ao nível em que esperam maximizar a diferença entre receita e o custo dos fatores.

Se OA = ɸ(N) -> o preço da oferta agregada resultante do emprego de N homens - o que chamaremos de função da OFERTA AGREGADA (OA);
Se DA = f (N) -> o produto que os empresários esperam receber do emprego de N homens - o que chamaremos de função da DEMANDA AGREGADA (DA).

Dessa forma, se DA for superior a OA haverá um incentivo para aumentar o emprego acima de N.



DA ˃ OA ↑ N


Da mesma, se DA for inferior a OA haverá um incentivo para diminuir o emprego (N).


DA ˂ OA    N



Logo o EMPREGO é determinado pelo ponto de interseção da função da demanda agregada e da função da oferta agregada , pois é neste ponto que as expectativas de lucro dos empresários serão maximizadas.





(O gráfico demonstra, de antemão, a Propensão Marginal a Consumir - o que será melhor explicado nos outros capítulos)


DEFINIÇÃO DE DEMANDA EFETIVA


"Chamaremos de demanda efetiva o valor de  D no ponto de interseção da função
da demanda agregada com o da oferta agregada."

Segundo o próprio Keynes "esta é a essência da Teoria Geral do Emprego [...]" (p. 30)

Observe:

Demanda Agregada (DA): Possibilidade de demanda (desejo)
Demanda Efetiva (DE): o que se materializa e determina a produção que, por sua vez, determina o emprego.




                                                 CRÍTICA AO PENSAMENTO CLÁSSICO


O que determina o volume de emprego é a demanda efetiva e não a oferta e demanda de mão-de-obra.

Deste modo, pode existir desemprego involuntário se a demanda efetiva for insuficiente.



EXEMPLOS PRÁTICOS (Modelo Básico)

PIB 2009:    0,64 %
INFLAÇÃO 2009: ↑ 4,31%


  
. Se o PIB  ˃  4,3%     Desemprego
. Se o PIB  ˂ 4,3%      Desemprego

Obs: Coeteris Paribus (TECNOLOGIA E POPULAÇÃO, principalmente)


Exemplo 2

PIB 2010: ↑ 7,49 %
INFLAÇÃO 2010: ↑ 5,91 


. Se o PIB  ˃  7,5%  ->    Desemprego
. Se o PIB  ˂ 7,5%  ->     Desemprego

Obs: Coeteris Paribus (TECNOLOGIA E POPULAÇÃO, principalmente)



BREVE SUMÁRIO DA TEORIA DO EMPREGO QUE SERÁ DESENVOLVIDA

A teoria pode ser resumida nas seguintes proposições:

  1. Sob certas condições técnicas, de recursos e de custos, a Renda (monetária e real) depende do volume de emprego;
  2. A relação entre a Renda e o Consumo depende de características psicológicas da comunidade, o que chamaremos de PROPENSÃO MARGINAL A CONSUMIR (PMgC);
  3. O Emprego depende da soma de duas quantidades: a) o que se espera que seja gasto em Consumo (C); e b) o que se espera que seja aplicado em Investimento (I). Sendo DE o que chamamos de Demanda Efetiva. 
  4. Desde que C + I = Emprego = DA = OA, e segundo vimos em (2), C é uma função do Emprego que depende da PMgC, deduz-se que RENDA menos C é igual à I.
  5. Consequentemente, o EMPREGO depende da OA, da PMgC, e do I. 
  6. A cada volume de EMPREGO corresponde certa produtividade marginal da mão-de-obra e é isto que determinado o SALÁRIO REAL.
  7. A Teoria Clássica pressupõe o PLENO EMPREGO, sendo o Desemprego apenas friccional ou voluntário.
  8. A PMgC cresce a uma taxa decrescente em relaçao a Renda.


UM BREVE RESUMO

" Se a propensão a consumir e o montante de investimentos resultam em uma insuficiência da demanda efetiva, o nível real de emprego se reduzirá até ficar abaixo da oferta de mão-de-obra potencialmente disponível ao salário real em vigor, e o salário real de equilíbrio será superior à desutilidade marginal do nível de emprego de equilíbrio." (p. 33)



PARADOXO DA "POBREZA EM MEIO À ABUNDÂNCIA"

A simples existência de uma demanda efetiva insuficiente frequentemente paralisa o aumento do emprego antes d'ele ter alcançado o nível de pleno emprego. Essa insuficiência inibirá o processo de produção, a despeito de que o valor do produto marginal do trabalho continue superior à desutilidade marginal do emprego. (Isto é, indiferente que ainda há pessoas dispostas a trabalhar por salários menores).

Se a comunidade for rica a tendência é ampliar ainda mais a lacuna entre produção efetiva e a potencial. Portanto, mais óbvio e maléficos os defeitos do sistema econômico.

Uma comunidade pobre consumirá a maior parte da produção de modo que um investimento modesto será suficiente para garantir o pleno emprego.

A PMgC é menor nas comunidades ricas por isto esta terá que descobrir oportunidades mais amplas de investimento, para que possa conciliar a propensão para a poupança dos seus membros mais ricos com o emprego dos seus membros mais pobres.



 DIVERGÊNCIA ENTRE RICARDO E MALTHUS

Malthus opôs com veemência a doutrina de Ricardo (aceita de maneira tão completa que keynes a compara com a Inquisição aceita na Espanha) de que era impossível uma insuficiência de demanda efetiva, porém em vão. Não tendo conseguido explicar com clareza (a não ser por fatos da observação prática) deixou de fornecer uma estrutura capaz de substituir a tese que atacava.

O grande enigma da demanda efetiva com que Malthus havia lutado desapareceu da literatura econômica. Tendo apenas sobrevivido, furtivamente, nos subterrâneos do mundo de Marx, Gesell e do Major Douglas.




sábado, 4 de agosto de 2012

A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda: Capítulo 02

Os Postulados da Economia Clássica

Neste capítulo Keynes apresenta a economia clássica do emprego (lembrando que para Keynes os neoclássicos marginalistas são tidos como clássicos também):

No primeiro postuladoO salário é igual ao produto marginal do trabalho (p.18). Veja o gráfico da teoria dos preços e compare abaixo com a idéia clássica do emprego:


Teoria Clássica do Emprego (Arthur Pigou - 1933) [foi quem sucedeu Marshall na cadeira de Economia Política]



Os Clássicos tiram sua teoria do emprego da teoria dos preços.


No segundo postulado: A utilidade do salário, quando se empregada determinado volume de trabalho, é igual a desutilidade marginal desse mesmo volume de emprego (p.18), a Oferta de mão de obra esta relacionada inversamente com a sua desutilidade, isto é, "qualquer motivo que induza um homem ou grupo de homens a recusar trabalho". (o famoso trade off  trabalho/lazer.)

Dessa forma, o salário deve compensar a perda do lazer: a utilidade do salário é igual a desutilidade marginal do trabalho (DMgT).


 Salário ≥  DMgT


Nota-se que a demanda de mão de obra depende do Valor do Produto Marginal do Trabalho (Preço x Produção de 1 trabalhador), isto é, a demanda acontece até o ponto onde o salário é igual ou menor ao PMgT.



Crítica de Keynes 

Segundo Keynes a teoria clássica do emprego é apenas uma abstração! Já que admite apenas os desempregos friccional e voluntário. (o pressuposto do pleno emprego não admite desemprego involuntário).

Os clássicos não analisam o desemprego involuntário (Keynes cita que o Professor Pigou admite o desemprego involuntário mas não usa em seu argumento para simplificação):


A escola clássica concilia este fenômeno com o seu segundo postulado,
argumentando que, se a procura de mão-de-obra ao salário nominal vigente
se acha satisfeita antes de estarem empregadas todas as pessoas desejosas
de trabalhar em troca dele, isso se deve a um acordo declarado ou tácito entre os
operários de não trabalharem por menos, e que, se todos eles admitissem uma redução dos
salários nominais, maior seria o volume de emprego atendido." (p.19)


Desse modo, os classicos colocam que embora tal desemprego seja aparentemente involuntário, deveria-se incluí-lo na categoria de desemprego "voluntário", em virtude dos efeitos dos contratos coletivos de trabalho, etc. 

Keynes coloca que este argumento não está claramente respaldado pelos fatos e que esta hipótese de "negociações" não é válida. As duas objeções levantadas são:


a) uma redução dos salários reais, devida a uma alta de preços, não acompanhada de uma elevação dos salários nominais, não determina, por via de regra, uma diminuição da oferta de mão de obra disponível à base do salário corrente;
b) Rigidez salarial ( salário nominal);

Para keynes, "existem empregados involuntários quando, no caso de uma ligeira elevação de preços dos bens de consumo dos assalariados relativamente aos salários nominais, tanto a oferta agregada de mão-de-obra disposta a trabalhar pelo salário nominal corrente quanto a procura agregada da mesma ao dito salário são maiores que o volume de emprego existente."




Salário Real e Salário Nominal 

No que tange aos salários, Keynes observa que o que importanta para o trabalhador é o salário nominal e o salário real relativo ao invés dos salários reais. E que, ambos variam iguais no caso de uma variação que afeta apenas um gênero de indústria mas, no caso do nível geral de salários, estes variam em sentido oposto:


                               "Isso se deve ao fato que, em um curto período, a baixa dos salários nominais e a elevação dos salários reais constituem, por motivos diferentes, fenômenos ligados à diminuição do emprego, pois, embora o trabalhador se mostre mais disposto a aceitar reduções do salário quando o emprego declina, os salários reais tendem, inevitavelmente, a crescer nas mesmas circunstâncias, em virtude do maior retorno marginal de determinado estoque de capital quando a produção diminui."




A lei dos mercados de Say

 À partir das fls. 25 Keynes no Cap. 2 Keynes lança dois grandes problemas doutrinários:

a) "A oferta cria a sua própria demanda" (1803 - Tratado de Economia Política)

b) Investimento = Poupança




"Como corolário desta mesma doutrina, julgou-se que qualquer ato individual de abstenção de consumir leva e equivale a um investimento na produção de riqueza sob a forma de capital resultante do trabalho e das mercadorias assim liberadas da necessidade de consumo" Keynes ilustra o ponto de vista tradicional com uma citação da obra Pure Theory of Domestic Values de Marshall. (especificamente a p. 34)


A crítica de Keynes é que o Investimento não é igual à Poupança e que, as familias podem poupar parte da poupança com outros objetivos que não seja o consumo próximo.





quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda: Capítulo 01 - LIVRO PRIMEIRO

O Capítulo 01 do livro é bem curto e começa relatando sobre sua ênfase ao estudo "Geral" que objetiva contrastar a natureza dos argumentos e conclusões deste livro com a teoria clássica (Para Keynes Clássicos e Neoclássicos/marginalistas).

Keynes dá a idéia de que se aplicarmos os postulados marginalistas para a economia (como um todo) isso culminará em algo "desastroso" (Pleno Emprego, Não-intervenção, etc.)


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda

Continuando nossa prosa sobre a obra prima de Keynes é válido lembrar aqui ao leitor que este, segundo a apresentação do livro pelo Professor Adroaldo Moura da Silva, deve seguir o conselho de Samuelson sobre  a Teoria Geral:

" É um livro mal escrito e mal organizado ´[...] Não serve para uso em classe. É arrogante, mal educado, polêmico e não muito generoso nos agradecimentos. É cheio de falácias e confusões: desemprego involuntário, unidades de salário, equivalência da poupança e do investimento, caráter intertemporal do multiplicador, interações da eficiência marginal sobre a taxa de juros, poupança forçada, taxas de juros específicas, e muitos outros [...] depois de entendida a sua análise, se mostra óbvia e ao mesmo tempo nova. Em resumo, é um trabalho de gênio."


FALANDO UM POUCO DO LIVRO

TRATA-SE DE UM LIVRO PARA ECONOMISTAS: teórico com pouco aplicação prática!

LIVRO DOMINANTE NA ÉPOCA: O Livro de Marshall

A preocupação fundamental é: EMPREGO E DESEMPREGO. No entanto, quando Keynes mexe no emprego ele mexe em toda a economia, principalmente no juro e na moeda.

Em suma, para o autor, o PROBLEMA DO CAPITALISMO é a poupança: no "agregado" é algo ruim para a economia.

MARSHALL E MILL são considerados autores clássicos.

Junta-se o MUNDO REAL E O MUNDO MONETÁRIO.

OBJETIVO DO LIVRO: 

CAP. 1

"[...] o estudo das forças que determinam a produção e o emprego ..."

CAP. 8

"[...] descobrir o que determina o volume de emprego [...]"


Em suma, parafraseando, o que determina o EMPREGO é a PRODUÇÃO e o que determina a PRODUÇÃO?

Y = C + I +G + E


PREFÁCIO


Último parágrafo do PREFÁCIO: "Foi um esforço muito grande se desprender da teoria marginalista [...] a dificuldade está em se desvencilhar das regras que permeiam nossa mente."

PREFÁCIO JAPONÊS: Keynes diz que a TEORIA GERAL está em Malthus (1820 - Os Princípios da Economia Política - teoria da utilidade) e não  em Ricardo (valor trabalho) 

Keynes faz a divisão entre MICRO E MACROECONOMIA - o seu livro estuda o sistema econômico como um todo (Renda Global, Produto Global, Emprego Global). Segundo este, não pode-se passar da análise Micro para a análise Macro. Sendo a poupança (S) má para a sociedade como um todo.



↑ S = ↓ Produção ↓ Emprego

↑ S =  ↓ Consumo




Por construção, o Investimento (I) é bom na sociedade:


↑ I =    Produção    Emprego


Keynes não aceita a T.Q.M (Teoria Quantitativa da Moeda): a Qd de Moeda (M) não influencia diretamente nos preços. Em suma, o seu pensamento é o seguinte:



M  influencia I que influencia na Produção que influencia no Emprego
que influencia na Oferta e Demanda.